O Evangelho da Notificação

 


Era para ser um momento sagrado. O silêncio que antecede o culto, o som suave dos hinos, e aquele sentimento de estar prestes a entrar na presença divina. Mas eis que, no banco da frente, um celular vibra. Não é o toque celestial de uma revelação, mas uma mensagem do grupo de WhatsApp da família: "Alguém viu onde está o controle da TV?".

Os cultos modernos parecem uma coreografia de distrações. Há quem erga a mão para louvar, mas é revelado não a outra mão segura o celular, capturando o "melhor ângulo" do coral. Entre um salmo e outro, deslizem-se os dedos nas telas, com uma agilidade que faz inveja a qualquer harpa tocada por anjos. O que era para ser um encontro íntimo entre o cristão e Deus virou um triângulo amoroso com as redes sociais.

Imagine, por um instante, se a igreja adotasse uma medida semelhante à lei recente que proíbe celulares nas escolas. “Deixem os smartphones na portaria, ao lado dos boletins de dízimos”, anunciou o pastor. O rebuliço seria de tamanho que até as trombetas do Apocalipse pareceriam suaves em comparação. "Como assim não posso fazer stories do sermão? E o meu feed, quem vai alimentar?"

Ironia das ironias, muitas reclamações da lei escolar dizendo que ela atrapalhava o aprendizado. Mas será que nos lembramos que, no templo, o aprendizado é outro? É uma lição de um amor maior, de um sacrifício eterno. E, no entanto, dividimos nossa atenção entre a palavra de vida e o feed de memes.

Ah, o ritual do "amém tecnológico": antes de comer o pão da ceia, a foto é registrada – com filtros, claro. O cálice de vinho, agora "vintage", brilha sob a luz artificial de um flash. "Para que todos saibam que estou na igreja!", dizem. Mas quem será que precisa mesmo saber disso?

Se proibissem o uso de celulares nos cultos, talvez surgisse algo extraordinário: o reencontro com o silêncio, a introspecção. Poderíamos ouvir a palavra sem interrupções, sem notificações. Deus não envia mensagens de texto, mas fala ao coração, e para ouvi-lo é preciso estar presente, de corpo e alma – e sem Wi-Fi.

Quem sabe, num futuro não tão distante, as compras começam a instalar "bloqueadores de distrações". Não para punir, mas para lembrar que estar ali é um privilégio, não uma obrigação. Afinal, Deus nunca precisou de câmera para registrar nossas orações.

E quando o culto terminar, ainda haverá tempo para as fotos. Mas, por favor, que sejam tiradas de um coração mais pleno, e não de um feed ansioso por likes.


Fonte de inspiração: 
Proibir celular na escola ajuda contra desinformação como a de Nikolas, disponível em:https://noticias.uol.com.br/colunas/rodrigo-ratier/2025/01/23/proibir-celular-na-escola-ajuda-contra-desinformacao-como-a-de-nikolas.htm

  • Observação: Imagem criada por IA

 


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